Domingão
Quem frequentou Tairu nos anos 80 e não ouviu falar ou conheceu o lendário Domingão?
Negro, alto, bonito, falante, inteligente, porém sofria com o analfabetismo.
Namorador extremo, galante e sedutor. Faltavam-lhe os oito dentes incisivos, o que dificultava a pronúncia de certas palavras. Fósforo virava “frosco”, prédio virava “pédio” e empreitada virava “empretchada”. Porém, isso não o impedia de dizer palavras e frases amorosas, nem de dar beijos quentes dignos das novelas da Globo.
Ele se autodenominava empreiteiro: acertava a limpeza geral de um terreno, pagava 50% à sua equipe de trabalho e lucrava os outros 50%. A terceirização já existia na cartilha de Domingão nos anos 80.
Certa vez, fomos a Nazaré das Farinhas para ele acertar um serviço. Após negociar valores e receber o adiantamento, fomos curtir um pouco na Fontinha, área famosa pelos movimentados prostíbulos. O escolhido por ele foi o de Saiona, citado como o melhor, ao som de Amado Batista, Márcio Greick e Fernando Mendes, entre outros. Tudo regado a cervejas Antártica, sardinhas fritas e, claro, com as nossas acompanhantes profissionais.
Certa vez, ele combinou um namoro com uma garota que trabalhava na casa de uma veranista. Para o ninho de amor, escolheram a varanda da casa de outro veranista, que estava desocupada. Já eram cerca de 23 horas quando a menina, precavida, perguntou de quem era a casa. Ele respondeu que era dele, mas que havia esquecido as chaves e, por isso, teriam que ficar na varanda. O que ele não sabia era que os donos da casa estavam atrasados por causa da fila do ferryboat. Quando o casal de amantes já estava sem roupa, ele percebeu o farol de um carro vindo na direção da casa, provocando a interrupção amorosa e fazendo com que ambos fugissem, sem roupa, pela cerca dos fundos.
Outra vez, ele arrumou uma namorada que estava veraneando em uma casa em frente ao bar de Barreira. No momento em que ele chegava para namorar, formava-se uma plateia de cerca de 15 a 20 adolescentes, que observavam o casal e comentavam o instante em que iam se beijar, apenas para atrapalhar a vida do Don Juan de Tairu.
Domingão tinha um facão que parecia uma espada, e a habilidade de um samurai. Descascava um coco com apenas três facãozadas e subia no coqueiro com uma peia, com agilidade e rapidez, como se estivesse usando uma escada rolante.
Quando saíamos para colher coco, Domingão partia cocos para beber e, depois, outros para comer a polpa. Ele dizia que o coco aberto para beber contaminava a polpa. Imaginem a fartura da fruta naquela época!
Domingão se orgulhava e gabava de ser o homem mais rico de Tairu, pois possuía o primeiro prédio do local, que consistia em um bar com uma residência em cima. Esse era o tão falado “edifício” dele.

Certa vez, meu compadre, um amigo e eu fomos ao bar dele em um sábado à noite. Estava fechado, mas sabíamos onde ele guardava a chave. Abrimos, ligamos o potente som e nos servimos de cerveja. Pouco tempo depois, chega Domingão com uma de suas namoradas. Eles se sentam, e ele solicita a limpeza da mesa, uma cerveja gelada e o cardápio, que ele não sabia ler. Pediu também música do seu gosto e passou a noite toda nos chamando de “garçom”, charlando de cliente exigente, para impressionar sua amada.
Sendo assim, essa é a história do grande Domingão.
Ass: Um Eterno Veranista